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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Para casa!!Uma violência Consentida?

TAREFA PARA CASA: UMA VIOLÊNCIA CONSENTIDA?

Martha Guanaes Nogueira

Sabemos que o Para Casa não é compreendido da mesma forma por todos, mas muitos educadores justificam esta prática para: fixar o que foi visto em aula, complementar a aprendizagem, desenvolver no aluno o senso de responsabilidade e o hábito de estudo, garantir o vínculo da família com a escola, possibilitar o acompanhamento do desenvolvimento escolar dos filhos pelos pais, atender às solicitações dos pais que exigem a lição de casa ou para que a escola se firme como competente perante a comunidade, etc.
Mesmo dentre aqueles que comungam os mesmos objetivos, poderemos identificar variação quanto à quantidade, freqüência e tipos de tarefas para os alunos fazerem.
Muitos alunos afirmam realizar estas tarefas de forma mecânica, por obrigação ou necessidade, apenas para cumprir uma exigência escolar, como atividade sem significado.
Os alunos sempre acham que os professores exageram na quantidade de deveres para casa, já os pais acham que os alunos trazem poucas tarefas para casa. Muitas vezes o aluno sofre castigo por não ter realizado a tarefa de casa assim como ela, muitas vezes, ainda é dada como castigo por razões indisciplinares em sala de aula.
Klingberg (1972) adverte que a tarefa de casa não é um depósito didático no qual se “descarrega” tudo, inclusive os conflitos de aprendizagem, transferindo para a família, a responsabilidade pelo que não pôde ser feito em aula.
A polêmica existe há tempos e origina-se na concepção que se tem sobre o ensinar e o aprender.

A influência das diferentes concepções

Aqueles que acham que a transferência do conhecimento pelo professor para o aluno e a repetição dos exercícios é o que garante a aprendizagem, exigirão muitos trabalhos de casa. Para estes, o que importa é a quantidade de exercícios a repetir, para melhor absorver os conteúdos.
Mas para aqueles que consideram a aprendizagem como um processo de constituição individual de conceitos e idéias sociais, na qual a maneira de pensar do aluno, seu conhecimento prévio sobre o mundo e suas hipóteses a respeito dos diferentes assuntos são fundamentais, a quantidade de trabalho de casa não tem importância. Fundamental é a qualidade e a diversidade das atividades oferecidas, além da possibilidade de o aluno realizar a tarefa sozinho, envolvido e estimulado pelo desafio.
O educador precisa ter claro seu objetivo e quais os caminhos para alcançá-lo; o primeiro passo é ter domínio efetivo do que significa ensinar e aprender.

Unidade didática

Em princípio o Para Casa persegue os mesmos objetivos didáticos da aula: a diferença consiste em que por meio das tarefas os alunos chegam a uma maior independência.
Daí se deduz que existe uma unidade didática formada pela aula (hora de aula) e a tarefa Para Casa. Essa unidade didática está presente nos seguintes momentos:

1º - No trabalho com os alunos durante a aula, para a aquisição do conhecimento.
Aqui fica claro que o aluno necessita estar de posse do conhecimento para realizar sua tarefa de casa com autonomia. Ele necessita valer-se de toda aprendizagem da aula para solucionar seu Para Casa.

2º- Na formulação das tarefas de casa dentro do horário escolar. Este é o momento da divulgação da tarefa acompanhada de toda explicação necessária à sua realização. O professor precisa ter certeza de que a proposta foi entendida por todos os alunos e que eles têm condições de realizá-la.

3º- Na inclusão das tarefas no desenvolvimento posterior do processo de ensino. O professor deve incorporar os resultados da tarefa de casa no processamento da aula: seja procedendo o controle da realização das lições, seja socializando as contribuições trazidas pelos alunos durante a execução ou incluindo as próprias experiências dos alunos no desenvolvimento da aula.

Funções da tarefa de casa

As tarefas de casa têm as seguintes funções:

 Função Pedagógica: une a aula ao trabalho extra docente;
Dentro desta, a tarefa de casa pode ser:
Preparatória: refere-se às tarefas prévias que o aluno pode realizar em casa, tendo em vista “introduzir ou preparar determinados processos didáticos”. Alguns exemplos: observar o tempo, o pôr-do-sol, sua própria sombra à luz do sol, como fica a natureza após a chuva, o que acontece com o gelo quando é colocado na geladeira ou à sombra de uma árvore, ou ao sol, fazer uma leitura prévia, assistir a um programa de TV, entre outros.
Aprimoramento: refere-se às tarefas que destinam-se a dar continuidade ao processo de aprendizagem, ajudar na memorização dos conhecimentos julgados básicos e no exercício das capacidades e hábitos.
Aprofundamento: refere-se às tarefas cujo tema já foi trabalhado em aula, visando aprofundar os conhecimentos. Alguns exemplos: observar diferenças e semelhanças entre os animais, visitar um museu, realizar uma entrevista com um profissional, fazer exercícios por escrito, ler um livro, coletar material.

 Função social e comunicativa: aproxima a escola do lar. Mediante a tarefa os pais se familiarizam com as exigências docentes da escola e se previnem dos aspectos frágeis de seus filhos; os professores tomam conhecimento da rotina diária de seus alunos, em turno oposto ao da aula, na medida em que dosam as tarefas de casa em razão do trabalho extra que os alunos realizam, seja junto à família ou não.

 Função diagnóstica: evidencia as dificuldades apresentadas pelos alunos, seja dos conteúdos a dominar, seja das habilidades a desenvolver, seja de hábitos e atitudes a formar.

 Função de ajuste: mostra ao professor não só os pontos frágeis de seus alunos, mas também determinadas deficiências na estruturação de sua aula.

 Função propulsora: impulsiona a aprendizagem por meio dos exercícios além de estimular a aplicação dos conhecimentos adquiridos e das capacidades e habilidades desenvolvidas.

O fracasso na realização da tarefa de casa, se freqüente, desanimará o aluno, que terá crescente dificuldade em se empenhar e se debruçar sobre ela. Em contrapartida, a satisfação de ter dado conta, vencido o desafio da tarefa de casa, tenderá a animá-lo.

Sempre que possível, cabe ao professor avaliar os diferentes graus de desenvolvimento dentro da classe e tomar cuidado para que a auto-estima dos que não conseguem cumprir os deveres de casa, não fique prejudicada. Numa situação ideal, cada um deveria fazer uma lição adequada ao seu ritmo de aprendizagem e à sua condição familiar, mas há formas mais realistas de equilibrar as diferenças típicas de uma turma heterogênea. Por exemplo, dividindo-a em grupos e criando tarefas diferenciadas, especialmente nas primeiras séries, quando esses desníveis são maiores.
A tarefa de casa precisa estar a serviço do aluno e não contra ele. É preciso que o professor a veja como parte do processo ensino-aprendizagem e como extensão da aula, enriquecendo-a; a tarefa de casa é um recurso a mais para a aprendizagem e jamais um fim em si mesma.
Se a escola obriga o aluno a fazer a tarefa de casa, ela se obriga também a dar tarefas que ele possa realizar sem contar com a ajuda de outrem.
A realização do dever de casa é um termômetro da relação que o estudante tem com a turma, com o conhecimento e com o professor.
Se o aluno não cumpre sua “obrigação” para com a escola, o caminho a seguir é: saber por que ele não fez a lição; sanar em sala de aula as dúvidas; explicar novamente com novas estratégias, de modo diferente; dar exercícios em aula, corrigi-los..só então passar exercícios similares aos já dados, para o aluno resolver em casa.

Correção da tarefa

Para ser assegurada a Unidade Didática, a lição de casa deve ser pensada desde o planejamento da aula quanto a seus objetivos, conteúdo e estratégias de correção.
O Professor ao corrigir as tarefas executadas, poderá realizar um diagnóstico das dificuldades apresentadas pelos alunos, assim como poderá reconhecer alguma deficiência na estruturação ou condução de sua aula anterior.
Mais do que o resultado apresentado, tipo certo ou errado, interessa o processo utilizado pelo aluno para chegar à sua conclusão ou ao produto final.
A troca de informações entre eles, sobre os procedimentos adotados para chegar às suas conclusões, poderá contribuir para o processo de aprendizagem de todos.
Luciana Sedano de Souza, professora da Escola de Aplicação da USP, sugere as seguintes estratégias para a correção da tarefa:
 Em duplas
Selecione as duplas ou deixe os estudantes escolherem o parceiro. Evite pôr um muito avançado com outro com dificuldades. Eles devem trocar impressões sobre as estratégias utilizadas — isso faz ver que há várias soluções possíveis. Depois você pode corrigir dupla por dupla ou dar uma explicação coletiva.

 Em grupo
O ideal é montar grupos pequenos de estudantes. Libere-os para discutir todas as estratégias utilizadas. Depois faça a correção no quadro, sempre incentivando os comentários — assim eles criam o hábito de defender sua estratégia.

 Coletiva
Escreva o exercício no quadro e corrija com a turma. Peça que todos relatem as estratégias usadas — isso dá autonomia na correção dos trabalhos e mostra a importância de respeitar os colegas.

 Individual
Os especialistas dizem que essa é a forma menos adequada de trabalhar. Se precisar lançar mão dela, faça comentários, observações e novas perguntas para instigar os alunos a avançar para outros tópicos. Se não puder dar retorno, é melhor não propor lição nenhuma.

Conclusão
A tarefa de casa é um momento de estudo e assim deve ser encarada. Em hipótese alguma ela deve ser usada como castigo ou vingança do professor contra os alunos.
As crianças estão brincando menos e as obrigações com a tarefa de casa têm contribuído para isso. Tal constatação precisa ser considerada por todos os educadores, incluindo os pais, e especificamente os professores, ao trabalhar a tarefa de casa.
Uma solução seria a escola programar, planejar a tarefa de casa: dosagem, escalonamento, periodicidade.
Cada escola poderia reunir-se com os pais e, juntos, numa parceria educativa, planejar a tarefa de casa para cada semestre ou ano: freqüência, quantidade, responsabilidades da escola, dos alunos e dos pais, dificuldades, entre outros quesitos.
Portanto, a tarefa de casa precisa ser objeto de planejamento pela escola. Cada escola elaboraria suas diretrizes, deliberando sobre periodicidade, quantidade, critérios de correção e avaliação, usos e outras propostas sugeridas pela comunidade escolar.
Fica a sugestão.
É preciso que a tarefa de casa seja prazerosa e momento significativo para o aluno, jamais uma violência. Isto é possível e necessário.
Fica o desafio para os educadores.

Nós da Escola Ano 2 – n.º 20

Um comentário:

  1. MUITO BOM TEU BLOG, TO SEGUINDO ELE FAZ TEMPO....BJS QUE DEUS TE ABENÇOE.

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