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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

COMPREENSÃO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA ESCRITA

COMPREENSÃO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA ESCRITA
Nesta seção são focalizados alguns fatores e condições necessários à integração dos alunos no mundo letrado. Trata-se do processo de letramento, que deve ter orientação sistemática, com vista à compreensão e apropriação da cultura escrita pelos alunos. Indicam-se aqui conhecimentos gerais e capacidades a serem adquiridos e sugerem-se, rapidamente, procedimentos pedagógicos que podem ser adotados para a realização desses objetivos.

Como já foi dito na Introdução, ressalta-se que o trabalho voltado para o letramento não deve ser feito separado do trabalho específico de alfabetização. É preciso investir nos dois ao mesmo tempo, porque os conhecimentos e capacidades adquiridos pelos alunos numa área contribuem para o seu desenvolvimento na outra área.

Buscando a visualização disso é que foi feita a gradação dos tons de cinza do quadro
1. O conhecimento e a valorização da circulação, dos usos e das funções da língua escrita na sociedade são capacidades que devem ser trabalhadas, com vista à consolidação, nos três anos do ciclo, ainda que isso se faça com estratégias didáticas diferenciadas a cada ano. Já as capacidades necessárias para o uso dos materiais de leitura e escrita especificamente escolares devem ser tratadas sistematicamente e consolidadas logo na chegada das crianças e mantidas, retomadas, sempre que necessário, até a fase II.
Quadro 1
Compreensão e valorização da cultura escrita
Conhecimentos e capacidades a serem atingidos ao longo do
Ciclo Inicial de Alfabetização

Conhecer e utilizar modos de manifestação e circulação da escrita na sociedade

A cultura escrita diz respeito às ações, valores, procedimentos e instrumentos que constituem o mundo letrado. A compreensão da cultura escrita, pelos alunos, vem de um processo de integração no ambiente letrado, seja através da vivência numa sociedade que faz uso generalizado da escrita, seja através da apropriação de conhecimentos da cultura escrita especificamente trabalhados da escola. Esse processo possibilita aos alunos compreenderem os usos sociais da escrita e, pedagogicamente, pode gerar práticas e necessidades de leitura e escrita que darão significado às aprendizagens escolares e aos momentos de sistematização propostos pelo professor.

Na nossa civilização, todo cidadão, qualquer que seja seu grau de escolaridade ou sua posição social, está, de algum modo, inserido numa cultura letrada: tem documentos escritos, realiza, bem ou mal, práticas que dependem da escrita (ex.: tomar ônibus, pagar contas, etc.). Entretanto, é sempre possível alargar as possibilidades de integração e participação ativa na cultura escrita, pela ampliação da convivência e do conhecimento da língua escrita. Estar ativamente inserido na cultura escrita significa ter comportamentos letrados, atitudes e disposições frente ao mundo da escrita (como o gosto pela leitura), saberes específicos relacionados à leitura e à escrita que possibilitam usufruir de seus benefícios. A compreensão do funcionamento da escrita e a inserção nas práticas do mundo letrado incluem as capacidades de ler e escrever autonomamente (que são a meta central da alfabetização), mas não dependem exclusivamente dessas capacidades. Ao contrário, a inserção, maior ou menor, dos alunos na cultura escrita pode ser apontada como um fator importante para o sucesso ou o fracasso desses alunos na alfabetização. A compreensão geral do mundo da escrita é tanto um fator que favorece o progresso da alfabetização dos alunos como, uma conseqüência da aprendizagem da língua escrita na escola. Por isso é um dos eixos a serem trabalhados desde os primeiros momentos do percurso de alfabetização. Isso significa promover simultaneamente a alfabetização e o letramento.
A maioria das crianças brasileiras - sobretudo as que são atendidas pelas redes públicas de ensino - em sua experiência pré- e extra-escolar, tem acesso restrito à escrita, desconhece muitas de suas manifestações e utilidades. Por isso é importante que a escola, pela mediação do professor, proporcione aos alunos o contato com diferentes gêneros e suportes de textos escritos e lhes possibilite vivência e conhecimento:
• dos espaços de circulação dos textos (no meio doméstico,
urbano e escolar, entre outros) Gêneros de texto são as diferentes "espécies" de texto, escritos ou falados, que circulam na sociedade e que são reconhecidos com facilidade pelas pessoas. Por exemplo: carta, bilhete, romance, poema, sermão, conversa de telefone, contrato de aluguel, notícia de jornal, piada, reportagem, letra de música, regulamento, etc.
• dos espaços institucionais de manutenção, preservação, distribuição e venda de material escrito (bibliotecas, livrarias, bancas, etc.)
• das formas de aquisição e acesso aos textos (compra, empréstimo e troca de livros, revistas, cadernos de receita, etc.)
• dos diversos suportes da escrita (cartazes, out-doors, livros, revistas, folhetos publicitários, murais escolares, livros escolares, etc.)
• dos instrumentos e tecnologias utilizados para o registro escrito (lápis, caneta, cadernos, máquinas de escrever, computadores, etc.)
Conhecer os usos e funções sociais da escrita

Vivemos num tipo de sociedade que costuma ser chamada de "grafocêntrica", porque nossa vida social se organiza em torno da escrita. No dia-a-dia dos cidadãos, as práticas de leitura e escrita estão presentes em todos os espaços, a todo momento, cumprindo diferentes funções. Há escritas públicas que funcionam como documentos (o dinheiro, o cheque, as contas a pagar, o vale-transporte, a carteira de identidade), outras que servem como formas de divulgação de informações (o letreiro dos ônibus, os rótulos dos produtos, as embalagens de defensivos agrícolas, os avisos, as bulas de remédio, os manuais de instrução), outras permitem o registro de compromissos assumidos entre as pessoas (os contratos, o caderno de fiado), outras viabilizam a comunicação à distância (nos jornais, nas revistas, na televisão), outras regulam a convivência social (as leis, os regimentos, as propostas curriculares oficiais); outras, ainda, possibilitam a preservação e a socialização da ciência, da filosofia, da religião, dos bens culturais (nos livros, nas enciclopédicas, na Bíblia). Por outro lado, as práticas pessoais e interpessoais de leitura e escrita nos possibilitam organizar o cotidiano, nos entender, registrar e rememorar vivências (agendas, listas de compras, diários, cadernos de receita), bem como incrementar as trocas, a comunicação, a convivência, enfim (bilhetes, cartas de amor, e-mails).

Ter clareza quanto à diversidade de usos e funções da escrita e às incontáveis possibilidades que ela abre é importante tanto do ponto de vista conceitual e procedimental, para que o aluno seja capaz de fazer escolhas adequadas, ao participar das práticas sociais de leitura-escrita, quanto também do ponto de vista atitudinal, porque o interesse e a própria disposição positiva para o aprendizado tendem a se acentuar com a compreensão da utilidade e relevância daquilo que se aprende.

Trabalhar os conhecimentos e capacidades envolvidos na compreensão dos usos e funções sociais da escrita, implica, em primeiro lugar, trazer para a sala de aula e disponibilizar para observação e manuseio pelos alunos, muitos textos, pertencentes a gêneros diversificados, presentes em diferentes suportes. Mas implica também, ao lado disso, orientar a exploração desses materiais, valorizando os conhecimentos prévios do aluno, possibilitando a ele deduções e descobertas, explicitando informações desconhecidas.

Especificamente, o professor pode desenvolver atividades que possibilitem aos alunos:
• reconhecer e classificar, pelo formato, diversos suportes da escrita, tais como livros, revistas, jornais, folhetos
• identificar as finalidades e funções da leitura de alguns textos a partir do exame de seus suportes
• relacionar o suporte às possibilidades de significação do texto
Conhecer os usos da escrita na cultura escolar

Entre os suportes e instrumentos de escrita do cotidiano escolar nos dias de hoje podemos listar, por exemplo, livro didático, livros de histórias, caderno, bloco de escrever, papel ofício, cartaz, lápis, borracha, computador. Conhecer esses objetos de escrita significa saber para que servem e como são usados, identificando suas particularidades físicas (tamanho, formato, disposição e organização do texto escrito, tipo usual de letra, recursos de formatação do texto, interação entre a linguagem verbal e as linguagens visuais utilizadas com mais freqüência, etc.).

Muitas crianças chegam à escola sem ter tido oportunidade de conviver e se familiarizar com os meios sociais de circulação da escrita. Nessas condições, não é de surpreender que essas crianças façam hipóteses inusitadas sobre a natureza, as funções e o uso desses materiais, inclusive daqueles que são indispensáveis ao dia-a-dia na escola. No entanto, saber usar os suportes e instrumentos de escrita presentes na cultura escolar é um conhecimento que se articula com outros saberes sobre a cultura escrita, as funções e usos sociais da escrita as convenções gráficas, o uso dos diferentes tipos de letra , e constitui um fator importante de favorecimento da aprendizagem da língua escrita.
Por isso é necessário tratar explicitamente dessa questão na sala de aula. Esse é um dos conhecimentos dos quais as crianças precisam se apropriar logo no início do processo de alfabetização, em face de sua importância fundamental para a trajetória escolar do aluno. Quanto a cultura escrita,
funções e usos da escrita :
ver verbetes anteriores.
cultura escrita,
funções e usos da escrita
Quanto a convenções
gráficas e diferentes tipos
de letras: ver seção 2.
Fora da escola, esse saber é adquirido, em geral, quando as crianças têm acesso aos diversos suportes de escrita e participam de práticas de leitura e de escrita dos adultos. É por meio do uso que elas apreendem a finalidade de objetos de escrita presentes em diferentes contextos sociais e a maneira adequada de lidar com eles. Assim, na escola, esse conhecimento deve tornar-se um dos objetivos do processo inicial de ensino-aprendizagem da língua escrita, envolvendo uma abordagem didática, com apresentação, observação e exploração dos suportes e instrumentos escolares de escrita e de suas características materiais. Com isso, pretende-se propiciar aos alunos o desenvolvimento de capacidades cognitivas e procedimentais necessárias ao uso adequado desses objetos.

Algumas perguntas podem sugerir exemplos de atividades e possibilidades de exploração sistemática, em sala de aula, das especificidades dos suportes e instrumentos de escrita usuais na escola:
• nos livros e nos cadernos, como se faz a seqüenciação do texto nas páginas (frente e verso, página da esquerda e página da direita, numeração)?
• como se dispõe o escrito na página (margens, parágrafos, espaçamento entre as partes, títulos, cabeçalhos)?
• como se relacionam o escrito e as ilustrações?
• como se sabe o nome de um livro e quem o escreveu? qual a sua editora e sua data de publicação?
• como se faz para localizar, no livro didático ou no livro de histórias, uma informação desejada? como se consulta o índice, o sumário?
• como a seqüenciação do texto, sua disposição na página, sua relação com as imagens e ilustrações funcionam no computador?
• qual a melhor maneira de dispor um texto num cartaz? Que tipo de letra e que recursos gráficos deve-se usar (lápis de escrever, lápis de cor, caneta hidrográfica, tinta guache)?
• como se lê uma história em quadrinho

Desenvolver as capacidades necessárias para o uso da escrita no contexto escolar:
(I) Saber usar os objetos de escrita presentes na cultura escolar

Saber manusear os livros (didáticos e de literatura infantil) , usar de maneira adequada os cadernos, saber segurar e manipular o lápis de escrever, os lápis de colorir, a borracha, a régua, o apontador, a caneta, sentar corretamente na carteira para ler e escrever, cuidar dos materiais escolares, lidar com a tela, o mouse e o teclado do computador são algumas das aprendizagens que os alunos precisam desenvolver logo que entram na escola. Esses conhecimentos e capacidades são requisitados nas diversas práticas cotidianas de leitura e
de escrita, dentro da escola e fora dela. Por isso, esse é um tópico da aprendizagem da língua escrita necessário tanto para que os alunos possam obter sucesso ao longo da vida escolar quanto para que eles possam participar plenamente da vida social extra-escolar.

Por exemplo, o professor pode discutir com os alunos como usar os cadernos e cuidar deles, mostrando a eles um caderno: passando suas folhas, falando sobre as "orelhas de burro", explicando como elas se formam, mostrando o que pode acontecer quando se põe mais força no lápis do que o necessário para se escrever na folha do caderno, apontando e marcando as linhas da folha que servem de referência para escrever no caderno, etc. Nesses momentos, o que ele estará tomando como foco para observação e análise junto com os alunos é o instrumento de escrita caderno e suas especificidades materiais, que definem a maneira de usar esse material escolar de escrita. Tudo isso voltará a ser o foco da atenção dos alunos quando eles forem utilizar, de fato, esse instrumento, escrevendo em sala de aula.

(II) Desenvolver capacidades específicas para escrever

Escrever envolve trabalho cognitivo, raciocínio deliberado, todos sabemos. Mas o ato de escrever é, também, uma atividade motora, seja traçando letras na superfície de um papel, seja digitando num teclado de computador. As atividades motoras, precisam ser aprendidas e, na maioria das vezes, treinadas. O uso do material escolar de escrita: lápis, caneta, borracha, corretivo, régua, teclado de computador, inclui, além das capacidades cognitivas, uma habilidade motora específica, que exige conhecimento e treinamento.

A aquisição dessa habilidade específica ultrapassa os limites da mera destreza motora quando é associada ao conhecimento da cultura escrita. Uma das mais importantes funções da escrita é possibilitar a comunicação entre pessoas distantes ou em situações em que não é possível falar. O que se escreve é para ser lido pelos outros ou por nós mesmos, algum tempo depois. Se os alunos compreenderem isso, vai fazer mais sentido para eles.
esforçarem-se para conseguir uma caligrafia legível e com boa apresentação estética, como também empenharem-se na organização adequada da escrita nos cadernos, nos cartazes, nos murais, enfim, nos diversos textos que produzirem (etiquetas, agendas, listas, histórias, poemas, cartas, etc). Esse tópico é retomado no verbete "Conhecer e utilizar diferentes tipos de letra (de fôrma e cursiva)".

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